O câmbio automático, um luxo outrora reservado a poucos, hoje equipa cerca de 65% dos veículos em circulação no Brasil, proporcionando conforto e praticidade aos motoristas. No entanto, poucos sabem que a história por trás desse dispositivo crucial teve a contribuição fundamental de uma dupla de brasileiros.
A disputa sobre quem é o verdadeiro “pai” do câmbio automático é tão acalorada quanto o debate sobre a invenção do avião, envolvendo figuras como Santos Dumont e os irmãos Wright. No entanto, os primeiros passos rumo ao câmbio automático remontam ao início do século passado, quando muitos estudos foram realizados nesse campo.
A primeira transmissão automática foi patenteada pelo alemão Hermann Rieseler em 1925, já apresentando elementos como o conversor de torque e o sistema planetário. Antes disso, os irmãos Sturtevant, de Boston (EUA), em 1902, desenvolveram uma versão rudimentar do câmbio automático, que operava apenas em altas rotações.
O canadense Munro Alfred Horner avançou nesse conceito ao introduzir um mecanismo pneumático em sua transmissão. No entanto, por ser especializado em engenharia de vapor, sua invenção tinha limitações de potência e não tinha aplicação comercial.
O grande marco aconteceu em 1939, quando a General Motors lançou uma transmissão automática de quatro velocidades nos EUA, apresentando um sistema hidráulico para a troca de marchas, uma inovação introduzida pelo engenheiro Earl Avery Thompson.
No mesmo período, dois brasileiros, José Braz Araripe e Fernando Iehly de Lemos, entraram em cena, mudando o curso da história. Os engenheiros, que se estabeleceram nos EUA na década de 1920, trabalharam em oficinas de reparos navais e dedicaram mais de uma década ao desenvolvimento da transmissão automática automotiva.
Em 1932, Araripe e Lemos registraram a patente de sua invenção, que oito anos depois seria introduzida no modelo Oldsmobile de 1940 pela General Motors, sob o nome de Hydra-Matic. Esse sistema pioneiro dispensava o uso do pedal da embreagem, trazendo um novo nível de conforto aos motoristas.
Os brasileiros lucraram com a venda da tecnologia, recebendo uma quantia considerável na época, e o Oldsmobile tornou-se o primeiro carro do mundo a ser equipado com câmbio automático. A tecnologia, inicialmente um opcional caro, logo se popularizou e atualmente equipa veículos de todos os segmentos, deixando de ser um luxo exclusivo para se tornar uma conveniência acessível a todos.